Relato de Amamentação do Joaquim

Joaquim nasceu de uma cesária intraparto, depois de 24 horas de trabalho de parto sendo umas 2 a 3 horas de período expulsivo. Sim, ele coroou, senti o circulo de fogo (tão sonhado!) mas por circunstâncias maiores fomos eu e ele para uma sala de cirurgia para seu nascimento (tão desejado!). Em breve termino de escrever o relato de parto dele (sim, depois de quase 6 anos ainda estou escrevendo). Ele nasceu, veio por alguns minutos (ou seriam segundos) pra pertinho de mim, cheirei, beijei, chorei, me emocionei. Lembro de uma das sensações mais fortes e plenas da minha vida: quando olhei pra ele. Parecia que nos conhecíamos há tanto tempo! Logo após ele foi levado para os procedimentos de praxe do hospital e o Gustavo ficou junto dele enquanto eu seguia na finalização da cirurgia.

Logo após fui pra sala de recuperação ainda anestesiada (literalmente) porque foi tudo muito intenso, eu ainda não estava acreditando no desfecho do parto, na cesária (sim, foi um evento bastante traumático, de difícil aceitação, mas isso fica pra outro texto). Lá na sala de recuperação minha querida doula Ionara levou o Joaquim pra ficar comigo por um tempo, lembro que ele dormia um sono profundo, era madrugada, estávamos só nós dois naquela sala fria, eu em cima da maca e ele do meu ladinho, ficamos por um bom tempo assim, grudadinhos. Eu só admirando minha pequena grande obra divina. Naquele momento parecia que o tempo tinha parado e éramos só nós dois no mundo.

Quando voltei pro quarto logo Joaquim estava comigo novamente e assim começamos as tentativas de amamentar. Achei que seria algo muito natural, ele vem, pega o peito, suga e mama. Mas não foi bem assim, não conseguíamos fazer com que a pega acontecesse. Ele dava umas abocanhadas mas não pegava “de jeito” o peito. Na verdade me deu um branco (sério!!!) em relação a amamentação a esse um dia e meio de hospital, não lembro ao certo se ele chegou a realizar a pega no meu peito, parece que eu estava meio anestesiada ainda, naquela bolha de pós parida e recém nascida como mãe. Mas lembro da enfermeira fazendo um teste de glicose nele escondido (que deu tudo ok) e da nossa doula nos ajudando, e depois da consultora em amamentação da equipe chegando pra dar apoio a mim, Joaquim e Gustavo.

Primeiro dia de vida de Joaquim

Primeiro dia de vida de Joaquim

Bem, fomos pra casa e aí começou nosso maior desafio. Os primeiros dois dias em casa foram super tranquilos, Joaquim dormia bastante, eu e Gustavo suspirando de amores só de olhar pro nosso pacotinho de amor, mas quando ele ia mamar ainda não conseguia fazer a pega, então nós íamos tirando meu leite manualmente e dando pra ele de colherinha. Sempre tentando de tudo pra acontecer a pega no seio. Até que na terceira noite, de madrugada ele querendo muuuito mamar e nada de conseguir fazer a tal pega, começou a chorar desesperado, como nunca! Eu e Gustavo começamos a ficar aflitos, um apertando o peito e o outro com a colherinha pra oferecer pra ele. Que sufoco!

E eu ainda em recuperação da cesária, tive dores de cabeça terríveis, mal conseguia erguer a cabeça o que dificultava uma posição confortável pra conseguir segurar Joaquim direito e me movimentar. Nesse dia nem amanheceu direito e liguei desesperada pra consultora de amamentação Angelina PELAMORDADEUSA vir nos ajudar. Ela chegou, ufa! E enfim ela conseguiu fazer com que ele pegasse no meu seio com a boca. Lembro que ela fazia uma manobra com o bico do seio e com a boquinha dele, parecia tão simples! Ela ensinou pra mim, pro Gustavo e pra minha mãe que chegou alguns dias depois. Mas ninguém conseguia fazer a tal manobra. Só ela.

Dias depois chega ela com um bico de silicone pois os dias estavam passando e nada de acontecer a tal da pega. Joaquim estava precisando se alimentar e precisávamos tomar alguma providência. Eu não estava acreditando naquilo tudo! Às vezes chorava enquanto amamentava olhando praquele bico de plástico que estava entre eu e meu filho. Já não bastava a cesária agora esse bico de plástico entre nós? Eu ligava praticamente todos os dias pra Angelina perguntando quando eu iria conseguir largar esse tal bico, pedindo dicas e tudo mais (sim, sou dessas rs). Em TODAS as mamadas eu tentava primeiro amamentar sem o bico mas não conseguia. Me sentia frustrada pois os dias estavam passando e nós não conseguíamos nos livrar do bico.

Primeiro dia de vida, em contato pele e pele e cheirando o seio materno

Primeiro dia de vida, em contato pele e pele e cheirando o seio materno

Até que num lindo dia de sol a Amanda (uma das doulas da equipe) me envia mensagem perguntando se podia ir nos visitar e se dava pra levar uma prima dela enfermeira expert em amamentação que estava de férias na praia, e eu: CLAROOO VENHAM!!! A prima dela me deu o veredito que eu precisava ouvir: “se você quer mesmo amamentar e se livrar do bico de silicone finge que o bico não existe e que Joaquim é um recém nascido, faz como se ele estivesse aprendendo a mamar do zero”. Nossa, ouvir aquilo foi forte mas foi muito necessário. Chorei, refleti, pensei e decidi: “vou fazer isso nessa madrugada”.

Chegou a noite, coloquei o bico de silicone o mais longe possível do meu alcance  (primeiro amamentei Joaquim com ele) e seria na madrugada minha tentativa de amamentar sem o bico pois na madrugada ele mamava praticamente dormindo, meu instinto sussurrou que seria a melhor opção. E pra minha grande surpresa e felicidade ele mamou lindamente sem o bico de silicone, a pega aconteceu!!! Uauuu!!!! No outro dia acordado continuou conseguindo fazer a pega, com mais esforço, mais ajuda, mas conseguiu. Conseguimos! Passei o dia amamentando e chorando de felicidade. Lembro que era quase Natal, que grande presente ganhamos!

Outro detalhe importante da nossa história de amamentação é sobre a livre demanda. Lembro que eu fazia livre demanda desde o princípio, mesmo com o bico de silicone, maaaassss eu ficava olhando no relógio, as vezes até anotava o tempo de espaçamento entre as mamadas, e mais uma vez a Amandinha amada (nossa gratidão eterna!) um dia nos visitando perguntou “por que você fica olhando no relógio o horário das mamadas?” e eu nem sabia responder direito o porquê, acho que era insegurança em ver se ele estava mamando o suficiente ou coisa do tipo, enfim, a partir desse momento me dei conta desse hábito que mais nos limitava e gerava ansiedade, e parei de olhar as horas, parei de tentar controlar alguma coisa. Foi aí que me libertei de vez e tudo fluiu como tinha que ser e nossa amamentação se estabeleceu como mágica! E assim seguimos três anos e dois meses de amamentação de muita entrega, aprendizado e afeto que finalizou num desmame gentil e gradual conduzido por mim.

Essa é a nossa história de amamentação, minha e do Joaquim. Cada história de amamentação é muito única, muito íntima e muito especial. Que todas as mulheres possam ser respeitadas, com apoio e informação de qualidade. Com acolhimento que fortaleça suas escolhas de maternidade. Meu abraço a todas nós mulheres mães!

Ainda no hospital, aquele olhar de amor e cumplicidade.

Ainda no hospital, aquele olhar de amor e cumplicidade.

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Roberta

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